quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CONTAR AS HORAS, AS SEMANAS E OS ANOS NÃO SIGNIFICA RIGOROSAMENTE MUITA COISA

"A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas
." (do poeta mais gentilmente sincero que eu conheço, Mário Quintana)

DESEJOS

Que no ano que vem (e nos próximos) possamos exercitar o olhar que vê e ama a beleza da vida, que possamos recuperar o olhar curioso de uma criança diante do mundo, das coisas e das pessoas, amando tudo o que se descobrir. Fernando Pessoa que nos ajude:

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar
..." in O Guardador de Rebanhos (que merece ser lido inteiro e incontáveis vezes)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

TUDO BEM NO ANO QUE VEM

Esta época de final de ano tem sido tão esquisita pra mim ultimamente... Pode ser que esquisita esteja eu na crise dos trinta ou que eu fique ainda mais esquisita nessa época e que o fim do ano não tenha culpa absolutamente nenhuma disso – coitados dos anos. Pode ser que isso afete todo mundo, em graus e estilos diferentes. Não sei bem. O que eu sei é que nestes dias finais dos últimos anos eu tenho sentido uma urgência sufocante dentro de mim, uma necessidade quase ridícula de, depois daquela meia-noite, me tornar uma heroína superpoderosa para criar uma nova condição de vida, um novo eu e realizar coisas novas de um jeito novo. E eu gosto tanto do novo... Meu corpo fica cheio de adrenalina, como se estivesse às vésperas de tomar um choque. Um choque que, em tese, me dará uma energia insana de sair por aí fazendo todas as milhões de coisas que eu não fiz nos últimos doze meses. Tenho mil ideias, sinto uma disposição atípica, uma vontade louca de ser mais corajosa com tudo, de ser menos preguiçosa, de encarar os obstáculos como pecinhas de Lego, de acreditar mais na minha capacidade e de fazer planos, de pensar, pensar, pensar sem parar. Minha cabeça já não pára normalmente, mas, nessa época, vira um turbilhão incontrolável. Eu preciso anotar as coisas. Acordo de noite para fazer isso sob pena de simplesmente não conseguir dormir. Escrevo textos que me vêm à mente, elaboro novos planos, faço contas e listas. Ah, as listas. Listo tudo aquilo que passo a ter certeza absoluta de que será o melhor a fazer e o que “preciso”, imperiosamente, realizar. Sinto uma excitação, uma felicidade, uma vontade de sair correndo, voando, uma potência enorme dentro de mim pronta a disparar. É uma agitação interna deliciosa, não cansa e me faz lembrar como me sentia há uns anos atrás todos os dias, não só nos dias que antecedem o 31 de dezembro. Mas depois... logo no dia 1º é como se eu fosse possuída por uma entidade, um espírito zombeteiro e pessimista, me assombrando sob a alcunha de “Realidade”. E aquela pessoa disposta e até mais bonita que eu me tornara nos últimos dias vai desaparecendo do espelho. Eu começo a procurar desesperadamente por ela. Ela estava ali há um segundo, não pode ter ido tão longe! Volte, por favor! Eu gosto tanto dela... E, de repente, eu me sinto só e transformada. Quase triste. Passo a pensar todo o tempo no que eu acho que não sou capaz de fazer, nos empecilhos, nas dificuldades, no que “não pode dar certo”, no que é “arriscado demais” e fico ali, cabisbaixa, quase com pena de mim mesma (argh!), acreditando piamente em limitações que são, de fato, muito menores do que eu as imagino. Como alguém pode ter essa capacidade de mudar tanto e tão rápido de atitude, de humor, de pensamento e de disposição como eu? Todo ano tem sido assim e eu não entendo, simplesmente não entendo. E não aceito mais. É por isso que para este ano eu tenho um plano. Vou escrever tudo agora, deixar registrado tudo o que passa dentro de mim, todo esse ânimo e motivação. E vou fotografar essa pessoa para revê-la sempre, mesmo que ela suma do espelho, para que eu possa todo o ano, todos os dias, me lembrar do que gosto de ser verdadeiramente, do que eu quero e preciso ser. E, desta vez, tenho certeza, tudo vai ficar bem no ano que vem.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

DE CARA COM O FUTURO

Acabo de ter uma experiência... inclassificável. Correndo (como sempre), entrei apressada no mercado e dei de cara. Diferentemente do que seria esperado de alguém tão desajeitada como eu, não bati meu nariz em nada, nem topei o dedo do pé, nem esbarrei em ninguém. Fui eu quem foi atropelada! Atropelada pelo futuro. Uma senhora de mais de 80 anos caminhava delicadamente na minha direção demonstrando um firme propósito de parecer ereta. Era uma luta contraditoriamente elegante contra o próprio corpo, que insistia em lhe impingir um desconforto óbvio. A olhei já indo ajudá-la e, simplesmente, não pude mais me mexer. Uma corrente elétrica passou por mim quando ela levantou o rosto e eu vi os seus olhos verdes como os meus, o formato do rosto rigorosamente igual ao meu e uma postura tão familiar... Se não fosse o corpo frágil, a pele branca enrugada e os cabelos cinza, seria como me ver no espelho. Ficamos as duas ali, olhando uma para a outra, como se nos conhecêssemos. Na verdade, como se nos reconhecêssemos. Era uma semelhança tão clara que ficamos quase assustadas. Ela talvez vendo em mim a força que tivera e a moça que fora e eu me deparando com quem verdadeiramente poderia me tornar. Juro: a situação era tão improvável que tive o ridículo impulso de tocar aquele "outro eu", mas me controlei bem. Quando saímos do transe de estranhamento, ela sorriu abertamente e disse: "- Está tudo bem, querida, eu consigo sozinha. Obrigada". Até o orgulho era igualzinho ao meu?! A mim restou mesmo pedir desculpas por atrapalhar seu trajeto, já que, naquele momento, talvez eu precisasse de muito mais ajuda do que ela para me locomover. Fizemos caras iguais de interrogação e ela passou. Olhamos para trás ao mesmo tempo. Aqueles segundos levaram para mim um tempo difícil de explicar. Mas, ao contrário do que seria aceitável acontecer comigo, não isolei na madeira o mau agouro da velhice. Não. Acabei achando graça daquela viagem no tempo e, já em meio aos legumes e frutas, tive uma epifania sobre os caminhos naturais da vida e senti paz dentro de mim. Não consegui resistir a imaginar quantas coisas ainda iriam acontecer comigo até que eu me tornasse aquela senhora, quanta vida ainda tinha pela frente, quantas pessoas e lugares conheceria e fiquei feliz até em pensar nas rugas que teria. Que eu as tenha, porque serão as provas de que eu vivi. Continuei sorrindo, quase rindo, ao concluir que minha rápida ida ao mercado tinha demorado muito mais do que eu previa. Uns 50 anos mais, no mínimo!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

CARAMUJANDO

É ótimo ir a muitos lugares, conhecer gente nova, países, cidades, mundos e luas diferentes, mas, como descobriu a pequena Dorothy do Mágico de Oz depois de andar pacas, realmente não há lugar como o nosso lar. Hoje eu estou doente, contrariada com o meu próprio corpo e ficar trabalhando e zanzando na rua, coisa que normalmente é comigo mesma, de repente se tornou doloroso. Tudo o que eu queria na vida era correr pra casa. E corri. Dane-se. Ah, que alívio. A casa é pura proteção para a alma, é o único lugar no mundo onde eu tenho a sensação de estar completamente a salvo. Claro que é só uma sensação, mas é tão boa! Não é que eu seja apegada materialmente à minha casa, é mais uma associação emotiva com a energia do espaço. Deve mesmo fazer parte de uma instintiva proteção contra a vulnerabilidade típica do ser humano buscar esse conforto porque entrar em casa, mesmo que ela esteja completamente vazia, é como se sentir abraçado forte e ouvir "calma, tudo vai ficar bem agora...". É porque, às vezes, tudo o que se precisa de verdade na vida é tirar o salto alto e colocar as Havaianas, é ter a felicidade prosaica de (para quem tiver porque eu não tenho) ver seu cachorro abanando loucamente o rabo de alegria pelo simples fato de você existir, ou ter o direito de esquentar a comida de anteontem e comer na panela vendo televisão agradando seu estômago vazio. A casa é essa cúpula protetora antimísseis da vida lá de fora e ela pode ser uma mansão, um barraco ou até um veleiro, porque no fundo está onde a pomos. Acho que feliz é o caramujo que leva sua casa nas costas e pode se fechar por lá sempre que quiser...

sábado, 14 de novembro de 2009

INFLAÇÃO NAS RELAÇÕES

Ontem assisti a um documentário sobre a busca incessante das pessoas pelo companheiro perfeito e pelas relações afetivas ideais. O resultado de toda uma série de pesquisas e estudos não poderia ser outro que não fosse o massacre de frustração e solidão que elevados níveis de expectativa geram nas pessoas hoje em dia. O programa abordava em especial as mulheres, claro, que, desde criança, são doutrinadas a procurarem pelo príncipe encantado. Neste aspecto é importante notar que o check list a ser cumprido para a obtenção do título de “Príncipe Encantado” sofreu severa inflação. Além de lindo, educado, gentil e fiel, hoje em dia precisa ser financeiramente estável, ter uma carreira promissora, falar línguas e pelo menos pretender um mestrado, não ser emocionalmente dependente, não ser muquirana, ser o melhor amante do universo e adorar crianças e cachorros. Ah, claro, ele ainda tem que se lembrar de todos os aniversários (dias, meses e anos) do primeiro beijo, mandar flores, fazer declarações públicas de amor, dispensar os amigos por você, não ligar muito pra futebol (!?), sorrir mesmo quando estiver com dor de barriga, passear quatro horas seguidas no shopping sem reclamar e defender a amada dos ataques subliminares da mãe dele. Que cansaço! É muito, muito difícil atender a tantos critérios de classificação. As revistas femininas estão cheias de “dicas” para testar o incauto candidato. Se o cara virar a cabeça duas vezes para a esquerda durante o jantar já é um sinal de que a coisa não vai bem. Se o cara atender ao celular enquanto você foi ao banheiro é sinal que não está tão a fim assim de você. Se ele não te ligar até o meio-dia do dia seguinte ao primeiro encontro é porque é um canalha e não vai mais querer saber de você. Pronto. E essa maluquice já justifica uma overdose de sorvete de doce de leite da Häagen-Dazs cumulada com uma tripla sessão de comédias românticas alugadas com lágrimas nos olhos na locadora! O que se revela uma péssima ideia, já que o último filme acaba com um homem correndo atrás da mulher amada feito louco em um aeroporto gritando “Please, don´t go! I love you!”. Acho que não deve ser à toa que os filmes, inclusive comédias românticas, vêm com um prudente alerta de que se trata de uma obra de ficção e que qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência... Não estou aqui dizendo que o amor não existe, que encontros casuais não podem virar grandes romances, não é isso. Eu sou prova viva que um grande amor pode existir e aparecer até para quem nunca acreditou muito nele. Sim, eu ouvi os sinos tocarem quando me descobri apaixonada pelo meu marido. E tocaram alto, desesperadoramente alto (isso somente porque eu me permiti ouvi-los tocar). Também não estou dizendo que é preciso se contentar com “qualquer um”, com estar ao lado de alguém com desvio de caráter e que não acrescente nada ou que faça mais mal do que bem. Sou contra emburrecimento amoroso. Mas fico sempre pensando que a maioria dos relacionamentos que eu vi ir para o buraco não acabou por falta de amor, mas por falta de tolerância e por falta, principalmente, de se evitar a projeção no outro daquilo que se idealiza de alguém como condição para estar ao seu lado. Será que não basta uma pessoa gostar muito de você, sofrer quando você sofre, cuidar de você quando está doente de vomitar (pra mim não existe maior prova de amor), pensar em você da hora que acorda até a hora de ir dormir, rir junto, dividir umas esfihas porque a grana está curta? Não? Ela ainda precisa acordar de bom humor, amar literatura e filmes europeus necessariamente? A pessoa tem mesmo que ser perfeita? Mas perfeita como? Como ninguém! Todo mundo têm suas manias e idiossincrasias. Então, por que não tentar conversar, contornar e aceitar pequenas incapacidades alheias? Por que se tornar intolerante por o outro não te dar rigorosamente aquilo que ele simplesmente não tem condições de te dar? E por que não tentar enxergar só um pouco, só de vez em quando, quanta coisa maravilhosa ele pode te dar? Marguerite Yourcenar (uma escritora que eu aprendi recentemente a amar), dando voz a um sábio imperador romano que avaliava com prudência as relações sociais, escreveu “nosso grande erro é tentar encontrar em cada um, em particular, as virtudes que ele não tem, negligenciando o cultivo daquelas que ele possui”. E quanto isso acontece, não é mesmo? Não só com os pares, mas com nossos pais, irmãos, com nossos amigos, chefes, colegas. É tão mais fácil enxergar só o ruim ao invés de colocar no pratinho de lá da balança o que vemos de bom no outro. Provavelmente seríamos surpreendidos com a relação custo x benefício! Ah, não, mas somos “tão” independentes, “tão” senhores da razão, sabedores do bem do mal, do melhor e do pior que não podemos ser incomodados com esse tipo de exercício de julgamento mais cauteloso. Dá tanto trabalho... Para nos sentirmos confortáveis dividindo nossa bolha com o outro é preciso que as pessoas cumpram um protocolo, que tenham um comportamento predeterminado, tal qual fora idealizado. Não cumpriu? Adeus! Mas não é assim. Cada um tem em si nobrezas e hostilidades, dias bons e dias não tão bons, maneiras diferentes de ver as coisas, valores distintos e não por isso deve ser menos digno do voto de confiança de fazer parte da nossa vida. Mas, como tudo pode ser mais fácil do que o bom senso... quem quiser que siga por aí testando beijar todos os sapos do mundo. Eca!

EPITÁFIO

E porque da vida a potência da morte é parte inseparável, um dia, quando eu morrer, porque todo mundo morre um dia, pedirei humildemente emprestadas as palavras que Marguerite Yourcenar deu ao Imperador Adriano:
"Pequena alma, alma terna e inconstante, companheira do meu corpo, de que foste hóspede, vais descer àqueles lugares pálidos, duros e nus, onde deverás renunciar aos jogos de outrora. Por um momento ainda contemplemos juntos os lugares familiares, os objetos que certamente nunca mais veremos... Esforcemo-nos por entrar na morte com os olhos abertos..."

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

UM DOS PORQUÊS DE AMAR LIVROS INFANTIS

MANIA DE EXPLICAÇÃO
"Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.
Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a ideia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é um gostar que não diminui de um aniversário para outro. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desaforo... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina." (Adriana Falcão
in Mania de Explicação).

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

TODO MUNDO TEM UM LADO B?

Em geral, eu acho que sou uma pessoa legal. Sou bem humorada, falo umas besteiras, não encho muito o saco de ninguém, fico na minha, deixei de ser nerd e cdf, curto cinema, curto sair, curto ficar em casa também, topo programa de índio (desde que não envolva escalar montanha com chuva), não sou muito chata pra comer, converso com as pessoas na fila do banco, sou amiga do PréII do cara do balcão da padaria, atendo super bem um ex-colega do colégio que me achou no MSN (que eu não vejo há uns 18 anos e que insiste loucamente em falar sobre como eu era quando criança), dou risada de piada besta, digo “por favor”, “obrigada” e “desculpe” pra caramba, adoro responder e-mails-terapia gigantescos de amigas e cunhadas, assisto rindo uma peça de teatro amadora de uma amiga às 10h da manhã de um sábado, tenho vergonha alheia, amo animais, curto festa junina, ligo para os amigos só para saber como eles estão, ajudo velhinhas a atravessarem a rua, brinco com criança feito criança, acompanho com prazer (mesmo!) as compras da minha sogra na Rua 25 de Março e ouço numa boa ela falar sutilmente sobre como a minha vida profissional poderia ser melhor, trato bem a moça do telemarketing da empresa de filtros de água que me ligou a segunda vez no mesmo dia... Enfim, sabe pessoa fofa? Então, o EU que eu conheço e que eu gosto de ser é assim.

Mas, às vezes, eu viro um monstro. Não sei se é excesso de hormônios, um instinto psicótico meio adormecido que desperta com a mudança da lua, não sei! O fato é que em certos dias (e não necessariamente em semana TPM – terror para maridos) eu estou simplesmente insuportável. Acontece isso com os outros de virarem uma pessoa horrível de vez em quando ou é só comigo? Eu queria muito saber...

Porque nesses dias eu não durmo direito, acordo irritada, fico muda com o marido e não faço nem a pau o leite com Nescau dele de manhã, não controlo minha língua, pratico uns dois sincerocídios por dia, brigo no trânsito de mostrar o dedo do meio (ai...), me meto na vida dos outros, digo “vai logo”, fico louca da vida com umas bobagens, fico falando “tá, tá bom, tá bom” ao telefone, brigo com o meu pai (que é a pessoa mais impossível de brigar no universo), reparo na roupa das pessoas, pergunto para o meu marido 4 vezes em uma hora se tem alguma mulher dando em cima dele no trabalho (não, não uso a palavra mulher, uso um termo bem mais chulo) e faço mais um monte de outras idiotices sem tamanho!

Só que, claro, quanto mais irritada e chata eu fico, mais as coisas começam a dar completamente errado: o elevador não vem e faltam 5 minutos para uma audiência, eu subo correndo e bufando os nove andares de escada usando salto 8 e a pauta está atrasada “só” 2 horas; minha pasta abre no meio da rua e espalha papel por todo lado; a bateria do celular acaba; sou atacada por uma nuvem de pernilongos no fórum de Santo Amaro (!); um cara prende meu carro no estacionamento e leva a chave (!!!); o cliente não paga meus honorários atrasados; o sol torra meus miolos; a enxaqueca chega e a faxineira falta!!!

Aí só me resta mesmo dar um grito, tomar um banho gelado chorando e dormir mais cedo rezando para eu voltar ao normal no dia seguinte, o que, ainda bem, geralmente funciona. Só fico pensando que da próxima vez que aparecer esse meu lado negro vou poupar o mundo de mim e ficar na cama assistindo alguma coisa do tipo “Herby, Se Meu Fusca Falasse” na versão original de 1969 na Sessão da Tarde!

Faz parte da vida e de ser mulher, mas graças a Deus que isso só acontece de vez em quando, mas bem de vez em quando mesmo...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A VIDA É UMA SUCESSÃO DE CUBOS MÁGICOS

Só a sensibilidade de uma "menina" fantástica poderia ter me apresentado a algo assim... La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato, vencedor do Oscar 2009 de Melhor Curta de Animação - http://vimeo.com/3352352.

UM DOS PORQUÊS DE AMAR GUSTAV KLIMT
















The Kiss, Gustav Klimt

terça-feira, 3 de novembro de 2009

AOS MEUS SOBRINHOS SEMPRE...

... filme da Barbie, desenho de monstro, cinema 3D, pipoca gigante, apostar corrida, histórias malucas, dar colo, dormir tarde, bala de goma, escovar os dentes gargalhando, bronca da bagunça, arremesso na piscina, cócegas, comer besteira, overdose de video game, cochilar abraçado e amar profundamente.

O MELHOR ELOGIO

Eu devia ter uns 11 anos quando recebi o melhor elogio da minha vida. Foi de um primo mais velho muito querido. Não, eu não era apaixonada por ele, e não, a gente não brincou de médico nenhuma vez. Ele sempre me tratou como o irmão mais velho que eu nunca tive (bom, nunca tive nem mais novo também) e um dia me disse que eu era a menina mais bonita que ele conhecia porque eu sorria com os olhos. Claro que com aquela idade não se entende muito bem isso, mas achei o máximo ele dizer aquilo de “sorrir com os olhos”. Agora, depois de tantos anos, descobri que existe um monte de gente nesse mundo que faz isso também. E quer saber? É lindo mesmo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A SEMANA PASSADA FOI ESTRANHA

1. Vi um cara imitando o Chaves saindo do barril na esquina da Av. 9 de Julho com a Rua Lorena em plena terça de manhã;
2. Fui impedida de sair da minha garagem por um Corsa todo rosa escrito Mensagens de Amor estacionado bem em frente, com um motorista maluco, pronto para começar a berrar uma cafonice qualquer aos sons de Victor e Leo para uma coitada do meu prédio (que, ainda bem, não era eu!);
3. Sofri o segundo ataque (sério!) do mesmo vira-lata que me odeia e acha que é o dono da rua onde fica o consultório do meu dentista;
4. Ouvi o dentista dizer que a "oclusão da minha arcada dentária é invejável" e pensei que normal é invejar a conta bancária, o corpo, os olhos, o cabelo de alguém e que é meio deprimente ter a oclusão da arcada dentária para ser invejada;
5. Vi (ninguém me contou!) o nosso Excelentíssimo Presidente da República dizer no Jornal Nacional: - "pruque os ôme tão ficano nervoooso"...
6. Fui ao mercado comprar sabão em pó e descobri, só quando cheguei ao caixa (claro!), que o saco de 3Kg (o maior que existe nesse mundo de sabão) estava quase vazio e que eu tinha deixado um rastro azul perfumado pelo mercado inteiro por causa de um furo maldito!
Ainda bem que acabou e que hoje é segunda-feira. Iiii... pronto! Tá vendo? Esta semana também promete. Afinal, dizer "ainda bem que é segunda-feira" é ou não é algo bem estranho?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

UM DOS PORQUÊS DE AMARAMARAMAREAMAR DRUMMOND

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

VÍCIO TELEVISIVO

“A televisão me deixou burro, muito burro demais...ô, ô, ô” já diziam os Titãs. Mas não, a TV não me deixou burra não, me deixou foi de saco cheio mesmo. Domingo à noite dei o maior piti (coisa que não faz mais meu estilo há algum tempo), porque eram 2h da manhã e na televisão nova do quarto (que eu já odeio) estava rolando o insuportável futebol americano narrado pelo ainda mais insuportável Paulo Antunes (pessoa que ocupa a posição nº 2 na minha lista do ódio, logo abaixo de coco ralado e antes da televisão nova do quarto). Depois disso, andei pensando (e discutindo sobremaneira aqui em casa – adoro usar “sobremaneira”) a respeito da quantidade de coisas que deixamos de fazer criando raízes da bunda pro sofá diante da televisão. Não se “janta” mais a mesa; não se aproveita a varanda com uma boa conversa regada a uma taça de vinho; o aparelho de som não é usado mais há sabe-se lá quanto tempo (não sei nem se ele ainda liga); não se lê mais livros na mesma velocidade nem na mesma quantidade... Enfim. Não que eu ache que o padreco do casamento que fomos em Itapetininga tinha razão. Não acho que a televisão seja a “porta do inferno”, nem o “começo do fim da Família” (assim maiúsculo mesmo ele falou), não chego a tanto. Eu gosto de uma televisão, até pra me fazer companhia, ouvir uma voz humana quando eu estou sozinha, ver notícias, programinhas no melhor estilo nãoqueropensaremnadaagora, enlatados americanos para chorar desesperadamente pela mocinha. Eu curto. Mas tudo o que é demais estraga. E me enjoa também. Decidimos começar um exercício aqui, claro, sem neuroses, mas vamos tentar diminuir um pouco esse vício de todo dia nos aboletarmos no sofá e deixarmos sempre para amanhã, depois de amanhã, um dia desses, nunca talvez, aquele monte de coisas que poderiam (e até deveriam) ser feitas agora: ouvir música no escuro, arquivar todas as contas pagas dos últimos 2 anos, tomar um banho demorado à luz de velas, fazer um curso sobre algum assunto interessante (profissional ou não), alimentar um blog, separar para doação as roupas que não usamos mais, ler poesia, escrever um haicai idiota mas que você achou lindo, bater um papo, namorar mais vezes na semana, ligar pra sua mãe ou para aquela tia que mora lá no interior do Rio Grande do Sul, conversar com seu amigo solteiro pelo MSN sobre a Ana, a Rebeca, a Raquel, a Juliana e o estilo chiclete dele que as fez sumir em dois dias de namoro, qualquer coisa que te traga um prazer mais real e te mostre que a vida é o que acontece fora do que captam as antenas e cabos da TV, e é ótima!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA

Fiz 30 anos em junho passado. Curti muito fazer 30 anos. Não por conta desse papinho furado de que a mulher está mais segura e se sentindo melhor consigo mesma. Eu sigo não me sentindo bem comigo mesma e bastante insegura. Mas fazer 30 anos é mesmo um marco na vida e, refletindo muito, concluí que eu sou uma pessoa sortuda porque há muito mais coisas boas do que ruins acontecendo pra mim sempre. Logo, comemorei o saldo positivo. Mas, como alegria é um troço que, em geral, dura pouco, outro dia recebi uma carta do plano de saúde avisando que, a partir do ano que vem, eu seria automaticamente mudada de faixa etária com o respectivo e proporcional aumento da minha participação ($) nas parcelas mensais. Eu, que trabalhei com seguro a minha vida toda, fiquei ali passada, me perguntando quem teria sido o imbecil cretino que criou aquela tabela idiota segundo a qual, a partir das 0 horas do dia do meu aniversário, eu passei a ser uma velha caquética maníaca por frequentar consultórios médicos. O negócio é que esse comunicado abriu meus olhos para uma outra mudança de faixa etária. A mudança natural, mas não menos traumática, que a vida se encarrega de ir promovendo. A coisa acontece bem lentamente, na surdina, quase sem você perceber, e começa assim: um dia você faz um corte de cabelo novo com luzes de dois tons e fica linda. O que você ouve? Antes dos 30: Nossa, como você está gata! Depois dos 30: Esse corte de cabelo afinou o seu rosto, né? Pô... Mas, tudo bem, tudo bem, respira. A questão e que daí em diante é só ladeira abaixo. Brincar de luta com os sobrinhos? Antes dos 30: diversão. Depois dos 30: distensão. Usar blusa decotada? Antes dos 30: sexy. Depois dos 30: vulgar. Casar? Antes dos 30: sorte. Depois dos trinta: milagre. Ter filhos? Antes dos 30: meio cedo. Depois dos trinta: meio tarde. Usar saias curtas? Antes dos 30: Que coxa! Depois dos 30: Que trouxa! Precisando perder uns quilinhos? Antes dos 30: pegar leve nos doces. Depois dos 30: pegar só alface mesmo. Produto que o vendedor do semáforo te oferece para comprar no trânsito? Antes dos 30: pêssegos e mentos ice. Depois dos 30: panos de prato bordados a 3 por R$5 (e, pior, você compra!). Creme para o corpo? Antes dos 30: hidratante. Depois dos 30: esfoliante para os pés de geléia de figo, gel azul fedido anticelulite para a bunda, pasta de uréia antiestrias para culote e barriga, loção firmadora de amêndoas para busto e braços e creme de extrato de guaraná para as mãos!!! No final acabo achando que a vida consegue ser mais sacana que o pessoal do plano de saúde. Pelo menos eles mandaram uma “cartinha” com uma certa antecedência...

domingo, 11 de outubro de 2009

MALUQUICE MINHA DE CADA DIA

Eu acho que todas as pessoas deste mundo tem algum problema psicológico. Mesmo que seja leve. O meu não, o meu é grave. Eu fico pensando se isso acontece com os outros ou se é só comigo mesmo ter essa mania de ficar prestando atenção a tudo o que acontece a minha volta. É como ter um sistema de comunicação super potente e ficar captando radio pirata o tempo todo! Eu tenho um radar da NASA dentro do meu cérebro! É uma coisa de gente completamente maluca, daquela que precisa mesmo ir pro Pinel. Quando eu estou andando no shopping com o marido sou capaz de prestar atenção na explicação absurda dele sobre as regras do futebol americano (alguém sabe quanto é uma jarda? Não? Nem eu), lembrar a hora certinha do jogo do Grêmio, reparar que lá na prateleira do fundo da Arezzo tem uma bolsa vermelha maravilhosa, ouvir o comentário de duas senhoras sobre a peça de teatro nova que estreou na sexta passada, reparar que uma menina de 12 anos está falando sozinha na livraria e se perguntando por que ali não tinha “nenhuuuum espelho”, ouvir a conversa pelo celular de uma moça com o Henrique e descobrir que o Henrique é o namorado dela que estava atrasado porque o jogo do Corinthians tinha acabado de acabar. E tudo ao mesmo tempo! Mas fica pior. Às vezes eu vejo cenas banais do dia-a-dia envolvendo as outras pessoas e crio umas histórias doidas. Isso talvez seja o meu sintoma mais sério de maluquice nível extratosférico. Imagina. Vejo uma senhora de uns 50 anos sentada no restaurante sozinha e fico pensando que ela acabou de se divorciar, que está esperando uma amiga que vai lhe apresentar pra um outro amigo que ainda está solteiro com mais de 50 anos porque é um chato de galochas que só toma suco de tomate, come pistaches importados e tem uma pança monstro. Eu dou risada sozinha da desgraça alheia, mas, claro, não é nada disso. Na verdade o marido da mulher é um cara dez anos mais novo que ela que chega do banheiro dois minutos depois de eu inventar aquela história idiota na minha cabeça! Depois vejo um casal conversando baixinho e ela faz uma cara triste (ou eu achei que a cara era triste) e eu fico imaginando que ele está terminando tudo porque ela usou as palavras “casamento” e “bebê” numa única frase e depois de três semanas de namoro. É claro que, de novo, não deve ser nada disso: o cachorro dela pode ter morrido, ela pode estar com enxaqueca ou com a unha do dedão inflamada latejando, qualquer coisa nessa vida, mas até aí eu já criei uma novela na minha cabeça. Mas pior mesmo é contaminar os outros com essa maluquice e começar a dividir com o meu marido a história que eu inventei sobre aquelas pessoas. Surge, então, do nada, uma discussão ridícula:
Eu: - Olha ali. Tá vendo aquele menino jantando com a mãe? Tá vendo?
Ele: - Onde? Ali?
Eu: - Não olha!
Ele: - Mas se eu não olhar eu não vejo.
Eu: - Ali atrás, mas olha disfarçando.
Ele: - Tá, tô vendo. Mas o que é que tem?
Eu: - Aposto um sorvete Mega de doce de leite que ele engravidou a namorada de 16 anos e escolheu um restaurante para contar pra mãe só pra ela não ter coragem de matá-lo em público. Olha a cara péssima dela!
Ele: - Que nada, ele só tá levando um xingo porque tirou nota baixa em química orgânica. Molecão. O que você vai beber? H2Oh com gelo e limão?
Eu: – Tem isso de química orgânica e inorgânica ainda? Ai, deixa pra lá. Hoje eu quero suco de melancia com gelo num copo a parte. Mas claro que não pode ser só isso. Repara. A coisa é mais séria, um climão...
Ele: - A gente vai de buffet ou de pizza?
Eu: - De buffet, óbvio! Eu quero passar lá perto pra ouvir o que ela está achando de ser vovó.
Ele: - Prefiro Mega de amêndoas!
Eu: - Já volto com informações!
Pelo amor de Deus, tem coisa minha que nem eu aguento...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BE YOURSELF!

E daí tomar Activia de aveia todo dia no mesmo horário? E daí verificar se fechou a porta três vezes antes de entrar no elevador? E daí espirrar pela boca e arrotar pelo nariz? E daí odiar coco ralado mais do que tudo nessa vida? E daí comprar uma bolsa vermelha que você não precisa, mas que você amou? E daí ver um vestido e falar que é liiiin-dooooo? E daí assistir Darty Dancing pela 44ª vez e adorar? E daí andar pela sala a noite inteira quando tem uma preocupação? E daí decorar as musiquinhas dos comerciais? E daí ter uma vontade incontrolável de abraçar quem você ama no meio da rua? E daí ter jeans e blusas pretas de decote em "V" enchendo o armário? E daí mudar cinco vezes de ideia sobre a mesma coisa num período de vinte minutos depois de jurar que tem certeza absoluta que era aquilo que ia fazer? E daí ler um livro e chorar loucamente? E daí esquecer completamente uma coisa ruim que fizeram com você? E daí usar muito advérbio de intensidade? E daí amar fazer aniversário e querer que todo mundo te ligue nesse dia? E daí esquecer o nome das pessoas que acabou de conhecer? E daí continuar esquecendo sempre alguma coisa em casa e só lembrar quando vira a esquina? E daí fazer tudo pelos seus amigos? E daí ter pavor de palhaço? E daí nem sempre conseguir perdoar? E daí brincar de guerra de tinta com os sobrinhos? E daí adorar loja de brinquedos? E daí ficar horas numa livraria? E daí gostar de fazer bomba na piscina mas ter vergonha? E daí mandar a faxineira lavar o banheiro todos os dias? E daí ter fixação por lençois e toalha brancas? E daí cantar a música nova da Pink aos berros dentro do carro com as janelas fechadas enquanto espera no trânsito? E daí gostar de ouvir música italiana das antigas quando está deprimida? E daí dançar sozinha na sala girando a cabeça feito louca até cair tonta no sofá morrendo de rir de si mesma? E daí ainda fazer isso aos 30 anos? E daí odiar insetos pestilentos que fazem berebas na pele da gente? E daí tentar pintar a porta nova do banheiro e cagar tudo? E daí ser você mesma nessa vida? Daí que é bom!

HOJE ACORDEI MEIO CLARICE

"Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração! Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente! Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre! Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes. Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar!" Clarice Lispector

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

AOS MEUS AMIGOS SEMPRE...

...sopa quente, mudança de planos, ombro, choro, risos, senha para o roteiro da minha vida, ler em voz alta, pão-de-ló e água carregada na peneira!

SOLTA AÍ: UMA PORÇÃO CAPRICHADA DE AUTOCONFIANÇA

Oh, um tiquinho de leviandade no sangue me faria o mais feliz dos mortais. O quê! Ali onde outros, apresentando pouca força e talento, pavoneiam-se diante de mim, cheios de uma doce complacência para consigo mesmos, duvido eu mesmo de minhas forças e aptidões? Bom Deus que me concedeste todos esses dons, por que não ficaste com a metade deles para me dares em seu lugar a confiança própria e a auto-satisfação?”. (Trecho de “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CHAMA O SÍNDICO

É impressionante (e saudável) como eu sou a pessoa que menos sabe de tudo o que acontece no meu prédio. E eu sou feliz assim, achando que não acontece nada fora do normal por aqui. Eu curto ser “condominialmente” alienada! Olhando de fora, parece um prédio normal, de gente normal, de classe normal, num bairro normal, com apartamentos de tamanho normal (leia-se: onde você consiga entrar no banheiro sem ter que virar de ladinho pra se limpar). Está até valorizando normal, enfim... Eu faço questão de nunca saber de absolutamente nada da vida das pessoas ao meu redor de modo a preservar esse meu tão querido conceito de normalidade. Até porque vizinho bom, pra mim, ou está de mudança ou é aquele que dá tchau lá da porta dele, já fechando, sumiiiindo... Não. Eu nunca frequento reuniões de condomínio nem assembléias nem nada, nem que o mundo (no caso, o nosso mundo se resume ao chão da piscina infiltrando em cima do teto da garagem) estiver desabando eu vou a um evento desses. O que decidirem está de bom tamanho, eu como pão com banana pra pagar o condomínio, mas durmo em paz. Imagine, na última ata que eu me dignei a ler dizia que os pais de um menino de um apartamento seriam punidos porque o moleque tinha praticado “atos nefastos”. Pelo amor de Deus? O que ele fez? Cozinhou o gato da síndica no microondas até o bichano explodir em mil pedaços? Ah, não dá pra mim. Eu sou muito esquentada pra participar dessas coisas. Na primeira besteira que o inadimplente do apartamento X falasse, eu ia jogar a mesa do salão de festas na cabeça dele, ia dar a maior confusão, sangue, polícia, então melhor não. Bom, o fato é que, mesmo fugindo de maneira muitas vezes ridícula, olhando no olho mágico antes de abrir a porta de casa, fechando com força a porta do elevador e fingindo que eu não vi a vizinha-mala-mãe-da-gordinha-malcriada vindo correndo (tudo pra não subir com aquele papo brabo de calor, frio, faxineira boa e fralda noturna mais flexível para bebês), tem dia que não dá pra escapar. Eu e o marido estávamos subindo no elevador, cheios de compras nas mãos e, advinha, encontramos com os meus vizinhos de parede. Eles fazem aquele tipo “participativo-controlador-compulsivo” e, mesmo sem perguntar, acabamos sabendo de coisas cabeludíssimas que rolam por aqui. “Você soube da última?”. Vontade de dizer: meu filho, eu não soube nem da primeira, que dirá da última. Não sei nem quero saber! Mas não digo, não escapo e começa: “O cara do apartamento tal aproveitou que a mulher viajou, chamou duas mulheres ‘estranhas’ e foi visto pelo pessoal do prédio vizinho dançando pelado na varanda, baixou polícia e tudo”. Nossa, que coisa. “Ah, e o cara do tal andar que pendurou a mulher pelos pés pra fora da janela, bate nela direto e ela gosta tanto que não quer que ninguém chame a polícia se acontecer de novo. Tá sabendo?” Não, não estAVA sabendo. E me dá uma vontade louca de dizer: e nem queria saber e tchau porque o dedo do meu marido está quase gangrenando enrolado na sacola plástica do mercado. Mas não digo, apesar de ser verdade, e a coisa continua: “Olha, ainda bem que nós nos livramos do vizinho aqui debaixo. Finalmente se mudou. Também, depois que ele deu um tiro pro alto bem na hora que meu filho estava na janela, e foi todo mundo pra delega, tinha mais é que ir embora rapidinho”. Jesus Cristo, tiro, delega? Que lugar é esse? Que horas acontece essas coisas que eu não vejo nem ouço nada? Eu estou morando onde? Custa os olhos das nossas caras e um pouquinho das nossas orelhas isso aqui! Enquanto ele falava, meu conceito sobre a tal normalidade ia ficando completamente abalado, assim como a minha fé no ser humano em geral. E como se não bastasse me deixar apavorada com essas informações sobre os nossos companheiros psicóticos de plantão, deixar o dedo do meu marido quase pra cair, o cara ainda começa a falar do que acontece nos prédios vizinhos: “Sabe o prédio chique aqui na rua tal? Então, minha amiga mora lá e outro dia ela desceu com um cara pelado no elevador! Ela chamou o marido pelo interfone e ele disse: - Deixa o cara ser feliz!”. Ok, é engraçado pra caramba pensar nisso, mas eu tinha que fazer cara de indignada ali na hora. Claro, como tudo sempre pode piorar, começou a me dar uma vontade incontrolável de fazer xixi, e eu pensava no dedo do marido ficando cada vez mais roxo. Ai que nervoso. Devia ter previsão de multa pra quem perturbasse a estabilidade emocional dos demais condôminos desse jeito. Finalmente conseguimos nos livrar, tchau, tchau, adeus pra nunca mais, se Deus nos ajudar só te encontro na próxima vida, bam, porta fechada. Senti um alívio tão grande que ali sentada na privada, tive um ataque de riso e comecei a chorar. Porque, falando sério, a vida dos outros é ou não é coisa de chorar de rir?

TUDO O QUE EU QUERO

Quero ser um ser humano melhor, quero pensar mais positivamente, quero reciclar mais meu lixo, quero mais conhecimento, quero mais livros lidos, quero decorar mais músicas, quero mais viajar e viajar, quero falar mais com os meus amigos, quero mais mundos dentro de mim, quero mais imagens, quero estar mais com os meus pais, quero ter mais fotos e histórias para contar, quero outras culturas, quero um filho do marido que eu amo, quero ser uma boa mãe e esposa, quero ser magra uma vez na vida, quero mais museus vistos, quero um único creme que sirva para tudo e evite qualquer tipo de ruga, quero ser mais calma, quero usar minha profissão para fazer justiça, quero ganhar mais dinheiro, quero ser realizada profissionalmente, quero ajudar mais ao próximo, quero dizer mais eu te amo, quero saber perdoar mais, quero me perdoar mais, quero não ter medo de fracassar, quero me amar mais, quero mais coragem, quero mais autoconfiança, quero aprender definitivamente se autoconfiança agora é junto ou separado e quero, principalmente, não querer tantas coisas ao mesmo tempo.

ALEGRIA DE PAI

Faz tempo isso. Estávamos caminhando no Parque do Ibirapuera quando uma menininha, andando de bicicleta, passou à frente de seu pai e de sua mãe bem ao nosso lado. Reparei bem nela porque seus cachinhos balançavam muito com os solavancos da bicicleta. De repente, ela virou para trás e disse toda alegre: “Nossa, mamãe, como o papai está feliz hoje, né?!”. Fiquei triste. Deve ser raro ela vê-lo assim.

PICOLÉ DE LIMÃO

Outro dia o meu sobrinho e afilhado, o Dedé, ganhou um brinquedo que era um gênio da lâmpada de plástico. Ele foi logo me perguntando se aquilo era um palhaço. Afe, eu, que tenho pavor de palhaços (que me perdoem os palhaços bonzinhos e legais, mas eu odeio até vocês), fui logo explicando a lenda do tal gênio da lâmpada do Aladdin.

No final da história, eu falei:
- Já que você encontrou o gênio, pode fazer três pedidos, pedir três coisas que queira muito.
Aquele gurizinho esperto e comilão retrucou:
- Tia, eu quero um picolé. Um picolé de limão!
Ele pensou mais um pouco, porque deve ter se lembrado que tinha três pedidos, e completou:
- Um não, quero dois, dois picolés de limão (ele usa o plural corretamente aos 3 anos e eu acho lindo). Ah, e dá pra pedir um carrinho amarelo também? Mas pode ser um bem pequeno.

Ai que delícia ser criança e querer mais que tudo nessa vida dois picolés de limão e um pequeno carrinho amarelo!

HORÓSCOPO DE ARAQUE

Meu horóscopo de hoje disse que o dia é “propício” (propício é uma palavra que me irrita porque não quer dizer que vai acontecer nem que não vai acontecer necessariamente), mas, enfim, o dia é “propício” para a purificação da alma e para enxergar as coisas que me acontecem de um ponto de vista mais “amplo e espiritual”. Mas só me explica uma coisinha, por favor. Como é que discutir com a faxineira sobre como se usa o trocinho de plástico pra lavar sutiã e somar 2 meses tentando achar um carpinteiro pra trocar a bendita porta do banheiro que só fecha na porrada pelos mesmos 2 meses pode ter alguma conotação espiritual? Só se for algum espírito de porco tirando com a minha cara! A vida é engraçada.

UM DOS PORQUÊS DE AMAR CLARICE LISPECTOR

“Nessa mesma noite gaguejara uma prece para o Deus e para si mesma: alivia minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte e sim a vida, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que eu receba o mundo sem medo, pois para esse mundo incompreensível nós fomos criados e nós mesmos somos incompreensíveis, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade e paciência comigo mesma, amém.” (Trecho de "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" grifado por mim descaradamente).

UM BLOG PRA CHAMAR DE MEU

Eu já tenho outro blog que escrevo com uma amiga sobre as coisas legais que vamos encontrando nas andanças em São Paulo (http://www.descobrindoacidade.blogspot.com/). Mas esse aqui vai ser só meu, só para as coisas que eu acho que valem a pena serem contadas e para as que nem acho tanto que mereçam mas que vou contar assim mesmo. Afinal, de que adianta eu passar por essa vida e não deixar nenhuma história contada?